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13 de mar. de 2011

Xico Vargas do UOl manda o recado

Há dois meses, na serra fluminense, quando o céu desabou sobre Teresópolis e Friburgo, e o vale do Cuiabá, em Petrópolis, a Cruz Vermelha, uma semana depois, ainda não conseguia entregar água e donativos a quem de fato deles precisava. Organização internacional com raízes católicas, esbarrou na fé evangélica do prefeito de Teresópolis. Roupas e alimentos que eram levados para Friburgo em caminhões foram vendidos em biroscas. E no terceiro dia de socorro mal prestado à vitimas ainda se discutia desviar o Exército de sua atribuição constitucional de defesa da pátria contra o inimigo externo para socorrer os brasileiros que haviam despencado das encostas.

A burocracia, a ausência de comando e a falta de contato entre a Defesa Civil e a ajuda militar, enfim decidida, sequer produziram notícia. Uma semana depois da tragédia, quando ainda havia sobreviventes isolados num raio de quase 100 quilômetros, 12 helicópteros militares sobrevoavam a área, enquanto mais de cem repousavam numa base do Exército em Taubaté, a cerca de uma hora de viagem.
No Brasil, governantes sobrevoam os grandes desastres que roubam a vida e destroem casas e famílias dos eleitores. Olham do alto, não se sabe que avaliação fazem, prometem dinheiro via Medida Provisória, distribuem meia dúzia de frases aos jornais e voam de volta ao ninho. Às vezes até encerram a visita com bom humor. Como fez Dilma ao olhar os sapatos tamanho 49 do vice-governador Luiz Fernando Pezão destruídos pela lama. Por que não calçava botas? Pezão, única autoridade a entrar de corpo inteiro no episódio, explicou que eram difíceis de encontrar para o seu avantajado pé e recebeu a sorridente promessa de que seria socorrido por um par. Socorro já prestado.
Nos últimos anos, os desabrigados por tragédias no Brasil têm recebido duas promessas tão imediatas quanto inócuas: serão acolhidos no manto protetor dos projetos Aluguel Social e Minha Casa, Minha Vida. Os trâmites do primeiro oferecem a escolha entre depositar-se com a família num abrigo geralmente infecto ou mantê-la ao relento por pelo menos 30 dias prorrogáveis por mais 30. Para o infeliz que tiver perdido os documentos nos escombros da casa a espera pode chegar a seis meses. Minha Casa é mais difícil. Se um dia vier, será lá pelo segundo ano, depois que a família já foi destroçada.
O melhor exemplo desse cenário brasileiro é o morro do Bumba, em Niterói, que em menos de 30 dias completa um ano. Primeiro a prefeitura – como sempre fazem as prefeituras em relação às favelas – permitiu que se encarapitassem barracos nas encostas de um morro formado por acúmulo de lixo. Sim, por muitos anos fez-se dali um lixão. Com os barracos espetados virou uma comunidade e ninguém procurou aquela gente, senão para pedir votos.
Na madrugada de 7 de abril do ano passado a chuva botou tudo abaixo. Perto de 50 pessoas morreram e três mil ficaram com a roupa do corpo. Apenas 93 famílias receberam a bênção do Minha Casa, Minha Vida. Oitocentas famílias vivem entre Niterói e São Gonçalo, levadas de um abrigo para outro, à espera do Aluguel Social. Quase uma centena voltou a erguer barracos sobre o que restou do lixão. Até a próxima enxurrada.
Talvez nos fosse benéfico comparar com o mundo a qualidade e presteza com que o Brasil socorre seus cidadãos. Até agora só conseguimos criar mecanismos que transformam tragédias naturais em desastres sociais

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